Recuperação de Empresas

Recuperação Judicial: Confira 4 Empresas que Iniciaram Este Ano

Por que 2023 se revela até aqui ano tão complicado para as empresas brasileiras? Não chegamos nem ao fim do primeiro semestre e tivermos conhecimento de vários pedidos de recuperação judicial de marcas de peso e renome no mercado. Quem me acompanha, soube da crise da Amaro, Marisa e Americanas. Mas isso é só a ponta do iceberg. Os pedidos de recuperação judicial subiram quase 60% entre janeiro e fevereiro de 2023 em comparação ao período homólogo em 2022. Ao todo foram 195 pedidos, número superior ao dos últimos 4 anos e se iguala a 2018, segundo indicador da Serasa Experian.

Preocupa ainda a perspectiva que o segundo semestre promete não ser menos rude e agressivo para o empreendedorismo nacional. A previsão de Luiz Rabi, economista da Serasa, é que a onda de pedidos de recuperação está apenas no começo. Para a maioria dos analistas, o crescimento do PIB brasileiro será menor este ano. Cláudio Pires, diretor de investimentos da MAG investimentos, prever que a economia brasileira vai desacelerar mais do que a média global em 2023. Ou seja, não há um cenário de melhora significativa de nossa economia a curto prazo. Isso significa que as condições adversas postas permanecerão por longo tempo. Caberá ao empresariado encontrar soluções, caso existam, para escapar do lodaçal da crise.

Há várias causas que explicam o porquê dos ares de carrasco impiedoso de 2023. Tratarei de abordar os principais aspectos ao longo do artigo e listarei outras empresas relevantes que estão atravessando período de tormenta em 2023.

Ano intenso e mal-humorado: as causas para o 2023 terrível

É injusto e até ingênuo acreditar que a quebradeira das empresas brasileiras se deva a apenas a uma questão temporal. A crise explodiu em 2023 menos por questão de inferno astral numerológico e mais pelo acumulado de uma longa crise a durar anos. Comparo a uma gestação.  A crise de 2023 começou muitos meses antes, foi concebida com a instabilidade política e agravada pela derrocada econômica. A pandemia acelerou a gestação e o parto do desastre.

Viemos de um longo período de retração e estagnação econômica. De 2015 para cá tivermos apenas um ano de crescimento do PIB acima de 2%. Neste período, especialmente a partir de março de 2021, tivermos alta crescente dos juros, hoje em 13,75%. A pandemia e a guerra na Ucrânia foram as principais justificativas para o aumento. Aliado a esses fatores, tivermos a alta da inflação. A inflação acumulada dos últimos 5 anos (2017 a 2021) foi, respectivamente, 2,95%, 3,75%, 4,31%, 4,52% e 10,06%. Em 2022, considerado o IPCA registrado entre janeiro e outubro, foi de 6,47%.

Outros ingredientes amargos completam e ajudam a explicar a tempestade perfeita. O desemprego massificado, 9,2 milhões, informalidade nas alturas, 38,9% até fevereiro de 2023 (PNAD), índice de Confiança do Consumidor em queda (2,2 pontos. Janeiro de 2023. FGV) e empresas inadimplentes em alta (meio milhão em 1 ano, de um total de 6,5 milhões de empresas negativadas).

O período prolongado com a manutenção e piora desses índices construiu o ambiente insustentável para muitos negócios. Isso explica porque tantas empresas, em período tão curto de tempo, recorreram à recuperação judicial. Não se trata de uma questão isolada, mas macroeconômica.

No entanto, o número exorbitante de pedidos de recuperação judicial não se relaciona apenas com o período de vacas magras. Há estratégia também por parte do empresariado.

Prevenção: recuperação judicial é trunfo contra cobranças

A recuperação judicial nem sempre é vista como um remédio amargo para evitar o colapso. A condição é recorrida também como uma estratégia para se valer de certos privilégios. Por exemplo, na recuperação judicial, ocorre a suspensão de ações de cobrança e a liberação de medidas constritivas. Elas recebem tutelas cautelares preparatórias que antecipam consequências jurídicas posteriores.

Ver-se que na resposta sobre os números expressivos de recuperação judicial em 2023 a muito de crise, mas também, pragmatismo.

4 empresas que iniciaram recuperação judicial em 2023

Engrossando a lista de empresas graúdas entrando na fila da recuperação judicial, temos:

Grupo Petrópolis: bilhões e bilhões

Dono da Itaipava, o Grupo Petrópolis entrou com um pedido de recuperação judicial em 27 de março. A medida foi solicitada para evitar o vencimento de uma dívida de R$ 105 milhões.

Mas esses milhões são apenas o problema mais urgente. O Grupo Petrópolis informou que deve R$ 2 bilhões a financeiras e mercado de capitais. Deve ainda outros R$ 2,2 bilhões para terceiros.

Oi (OI BR3): você de novo

Março foi complicado. A Oi (OIBR3) também entrou com pedido de recuperação judicial no Rio de Janeiro no período.

O drama da Oi vem de longa data. Ela penou 6 anos para sair de um processo de recuperação e agora entra de novo no redemoinho da crise.

As causas foram múltiplas. Finanças debilitadas, aproximação do fim da tutela cautelar e negociações ainda em andamento. Para evitar execuções de credores, a saída foi o novo pedido de recuperação.

Nexpe (NEXP3): o drama segue no setor imobiliário

A crise segue forte no setor imobiliário. A Nexpe, antiga Brasil Brokers, entrou com pedido de recuperação judicial em fevereiro. A empresa alegou queda de faturamento, muito por conta da pandemia da covid-19. Causa das contingências trabalhistas sofridas pelo grupo e que provocaram impactos negativos.

Raiola: choque de oferta

Fevereiro também foi um mês complicado. A vítima da vez foi a produtora de azeites e azeitonas em conserva: Raiola. A empresa entrou com o pedido de recuperação a 3º Vara de Recuperações e Falências de São Paulo. O órgão deferiu com tutela de urgência. O motivo foi o vencimento de dívida de R$ 153 milhões.

A Raiola afirma que o choque de oferta provocou explosões de preços. Condição que forçou a necessidade de contrair empréstimos e se endividar. A dívida para com agentes financeiros chega ao montante de R$ 44 milhões. O débito para fornecedores de embalagens e serviços passa de R$ 15 milhões.

Cautela, mas sem desespero

Apesar da projeção de aumento da inadimplência e da manutenção da marcha estagnada da economia nos próximos meses, ainda não há motivo para pânico. O sistema financeiro não está em risco, assim como não está no horizonte crise de crédito e do setor bancário.

O momento é delicado, exige cautela, o ano será difícil, mas ainda existem condições para a construção de dias melhores. Persistamos.

Autor: Eduardo Almeida

Especialista em reestruturação empresarial, reconhecido como "doutor das empresas", com foco em salvar instituições de saúde em crise no Nordeste através de diagnósticos precisos e intervenções estratégicas eficazes.

Data:

11 maio, 2023