O livro mais influente da história é dotado de ensinamentos valiosos de gestão. As escrituras narram os esforços de migração de enorme contingente de pessoas para longas distâncias, construções de obras monumentais e decisões sábias e desastrosas de reis para com os seus reinos.
Ao longo da Bíblia, Deus mais de uma vez se dirige, direta ou indiretamente, aos homens de confiança para orientá-los sobre como proceder para a escolha de líderes ou conduzir determinadas obras.
Algumas orientações são datadas de época e necessidades particulares, mas outras sobrevivem ao tempo e se mostram perenes.
Hoje, quero partilhar com os amigos e amigas que me leem alguns desses ensinamentos de gestão que podem perfeitamente ser aplicados hoje.
Acompanhe.
Dividir o fardo
No livro de Êxodo, o sogro de Moisés sugere que faça divisão do trabalho para aliviar o seu fardo. Ele observou que Moisés ficava sentado o dia todo, de manhã à noite, diante do povo que se aglomerava em pé diante dele.
Instado pelo sogro sobre a causa, Moisés respondeu que necessitava servir de juiz para o seu povo. Quando surgia uma causa, o povo o consultava para conhecer as decisões do verdadeiro Deus a respeito e era o seu dever divulgar as suas leis.
Mas o sogro entendeu que esse processo logo o esgotaria, porque a multidão era infindável e propôs que selecionar-se homens capazes, tementes a Deus, fidedignos e que “odiassem o lucro injusto”.
Estes homens qualificados chefiariam grupos e se encarregariam de julgar as demandas apresentadas pelos comandados.
Moisés se responsabilizaria pelo julgamento das causas grandes, as causas que os chefes designados não fossem capazes de julgar à luz do conhecimento que detivessem sobre a lei divina.
Ele chegou a propor a seguinte divisão: chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez (Êxodo 18:21).
Moisés, ao ouvir as orientações do sogro, pôs-se imediatamente a fazer a seleção de homens.
A divisão de tarefas aliviou como o esperado a rotina de Moisés. Como não houve nenhum sinal de contrariedade por parte de Deus sobre a medida adotada, interpreta-se que o sogro de Moisés foi inspirado pelo próprio Deus vivente para orientá-lo.
Reconhecer os limites
Outro princípio de gestão que podemos tirar dessa passagem é que Moisés soube reconhecer os seus limites.
Em deuteronômio 1:9 ele reconhece isso ao relembrar o episódio: “E naquele tempo específico passei a dizer-vos o seguinte: ‘Eu sozinho não vos posso levar’”.
Deixando de lado questões de crença, é inegável o acerto da orientação e de como essa lógica se aplica até hoje com a divisão de trabalho por setores e a terceirização de serviços.
Para o sucesso de projetos grandiosos é indispensável a delegação de tarefas e a seleção de líderes capazes, sob pena de exaurir-se durante a jornada e pôr em risco o empreendimento.
Supervisão direta: controle de qualidade
Outro princípio de gestão verificável na saga dos hebreus até a terra prometida é o de fiscalizar a obra do início ao fim para confirmar se tudo foi seguido conforme o determinado.
No livro de Êxodo, Deus fornece detalhes minuciosos para a construção de altares, confecção de vestidos e execução de rituais de sacrifícios. Tudo deveria ser seguido à risca para cumprir a vontade divina e o trabalho realizado ser digno de bênção.
Em Êxodo 39:42-43, ler-se que Moisés inspecionou toda a obra para confirmar se os filhos de Israel fizeram o serviço conforme tudo dito por Jeová.
Ao confirmar que as orientações foram cumpridas, Moisés abençoou os hebreus. Entende-se que Moisés fez uma supervisão direta, uma espécie de controle de qualidade.
Por mais que confiasse nos homens selecionados para desenvolver o trabalho, ele era o líder, logo, o responsável pela produção da encomenda solicitada. A supervisão demonstra o empenho em entregar o prometido e assegurar a reputação de seu nome.
Planejar primeiro, agir depois
Os que planejam são amparados pelas escrituras como homens de bom senso. Em Lucas 14: 28-30, Jesus usa como exemplo de bom senso no mundo dos homens o planejamento prévio para a construção de uma torre.
Ele pergunta à multidão que o segue que quem, ao construir uma ponte, não calculava primeiro a despesa para garantir recursos suficientes para a conclusão da obra e evitar ser ridicularizado?
Ele ainda usou outro exemplo: qual rei, marchando de encontro a outro rei numa guerra, não assentava primeiro para tomar conselho e avaliar se os homens que dispunha eram suficientes para derrotar a legião do inimigo?
Ou seja, para Jesus, no mundo dos homens, lançar-se para um empreendimento ou uma batalha sem se planejar, sem avaliar suas condições e a do adversário, era uma tolice.
Contudo, para ser seu discípulo, era preciso abandonar o mundo dos homens, a lógica material do mundo dos homens, despindo-se de todos os seus bens.
A liderança de Jesus
Avaliando o comportamento descrito nos evangelhos, nota-se que o perfil de liderança de Jesus trilha a linha motivacional. Raramente no trato com os seus discípulos e com o povo impunha condições coercitivamente. Preferia incentivar pelo exemplo e pela exposição de ideias e pontos de vista.
O domínio das escrituras, a propósito, é um aspecto notável que cabe apreciação. Ele conseguia persuadir fiéis e colocar os detratores em contradição ao demonstrar conhecimento profundo das escrituras e capacidade de contextualizá-las nos mais diversos contextos.
Transferindo essas características para os nossos dias, qual liderança é capaz de conquistar o respeito dos subordinados sem demonstrar domínio do objeto principal de trabalho?
Os estudos mais recentes sobre produtividade destacam os ambientes de trabalho tóxicos ou que visam reduzir o estresse sobre os colaboradores?
Vale ainda destacar que, a exemplo de Moisés, Jesus também recorreu à divisão do trabalho ao selecionar 12 discípulos e atribuir tarefas específicas.
Em um mundo em constante evolução, esses princípios atemporais continuam relevantes. Líderes sábios reconhecem a importância de compartilhar responsabilidades, supervisionar com atenção, planejar com sabedoria e motivar suas equipes.
Lembrem-se, a liderança eficaz é baseada em princípios sólidos, independentemente das mudanças no tempo.