Reestruturação Empresarial

Líderes da Ficção: Exemplos para Seguir ou Evitar?

Há cerca de um mês publiquei um artigo analisando as virtudes e defeitos da liderança de personagens fictícios famosos por exercerem papel de autoridade. Hoje sigo com a proposta trazendo para a análise mais personagens queridos pelo público:

Será que são bons líderes ou contam com a boa vontade dos roteiristas para seguirem no comando apesar das falhas?

Nick Fury

Nos quadrinhos e nos cinemas, Nick Fury é diretor da Shield, uma agência antiterrorista global encarregada de monitorar as principais ameaças internas e externas (extraterrestres).

Fury foi o escolhido pela agência para recrutar e comandar superseres para proteger a Terra de grandes ameaças. Esses superseres foram nomeados como Os Vingadores.

Nick Fury é uma boa liderança?

No geral, sim, mas ele tem um defeito que já trouxe complicações para a sua equipe. E isso talvez conte a favor para humanizá-lo perante os espectadores e desmistificar a ideia de líderes perfeitos. Todos estão sujeitos a falhas, o importante é contar com os recursos internos e a motivação necessária para os méritos superarem as debilidades.

Nick Fury e a Shield merecem o mérito de terem realizado um amplo e detalhado trabalho de pesquisa para selecionar os membros da superequipe que pretendiam estruturar. Pesquisaram a fundo a vida, os poderes e os pontos fracos dos selecionados para compor um grupo equilibrado capaz de lidar com toda a sorte de desafios.

Por mais trabalhoso que seja, investir tempo e recursos na contratação evita gastos excessivos, uma vez que diminui a necessidade de rotatividade.

Outro ponto positivo da liderança de Nick Fury, com a assistência da Shield, é o de fornecer estrutura e material de trabalho de ponta para auxiliar a equipe a superar os desafios.

Os Vingadores contam com uma base de operações equipada com sistema sofisticado de defesa, aeronaves, porta-aviões, sistema de comunicação, suporte especializado para se obter e acessar informações sigilosas.

Mesmo reunindo os melhores profissionais do mercado, eles não poderão fazer milagre sem dispor de boas condições de trabalho e isto Fury sempre assegurou aos Vingadores.

Também vale destacar sua habilidade motivacional em momentos de crise, quando, por exemplo, a Terra foi invadida por seres de outro planeta.

Fury soube reunir a equipe, explicar o tamanho do desafio e motivar para que trabalhassem em equipe como único e melhor meio de superar a crise.

Centralizador

O ponto baixo da liderança de Fury é a desconfiança. Ele omite informações com a sua equipe por temer vazamento de dados sensíveis. Se isto assegura que informações sigilosas permaneçam seguras, também prejudica os comandados quando se veem obrigados a trabalhar no escuro.

Leia Organa

Filha adotiva da Rainha Breha de Alderaan, se notabilizou por ser uma das líderes da Aliança Rebelde, grupo de resistência do Império que assola o universo de Star Wars. Além de articuladora da Aliança, Leia exercia papel de general, coordenando ataques e participando das decisões militares da Aliança.

Leia Organa é uma boa liderança?

Com certeza. Sua liderança é diametralmente oposta a de seu rival, Darth Vader.

Vader usava da coerção para manter a disciplina e impor respeito, além de centralizar as decisões.

Leia praticava uma gestão horizontal, delegando funções, ouvindo sua equipe e demonstrando empatia para com os subordinados. O respeito como liderança conquistou ao demonstrar coragem ao sempre assumir a linha de frente dos projetos vitais para o sucesso da Rebelião.

Uma gestão verticalizada como a de Vader não é necessariamente ineficiente a depender do objetivo e dos recursos a disposição. Esse modelo de liderança tem como vantagem ter mais controle sobre os processos desenvolvidos na empresa, uniformizar decisões e evitar duplicações de tarefas, que geram prejuízo.

No entanto, se essa gestão for exercida com o autoritarismo de Vader, o resultado será a construção de um ambiente tóxico, desmotivador e menos eficiente.

Quanto à gestão horizontal adotada por Leia, proporciona melhor relacionamento dos líderes com os subordinados, concede mais autonomia para a resolução de pequenos problemas e reduz a dependência de outras áreas; além disso, aumenta a agilidade das decisões e estimula a adoção de soluções criativas.

Apesar de Leia ser uma excelente líder, seria um enorme déficit para a Aliança não contar com as lideranças de Han Solo e Luke Skywalker não acha?.

Capitão Nascimento

Líder do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) do Rio de Janeiro, Capitão Nascimento tornou-se uma figura mítica associada a liderança tenaz e audaciosa.

Lidando com diversas dificuldades, inclusive de foro íntimo, manteve ativa e funcional sua unidade, impondo autoridade com a experiência e expertise em lidar com as contradições de seu meio.

Capitão Nascimento é uma boa liderança?

Depende do filme. Como deve saber, Capitão Nascimento ganhou as telas no filme Tropa de Elite, longa que recebeu uma continuação anos depois.

O Capitão Nascimento do primeiro filme era uma figura extremamente autoritária. Ele impunha castigos físicos e humilhações públicas a seus subordinados quando estes cometiam alguma infração, justificável ou não.

O ambiente de trabalho era de tensão máxima, pois além do trabalho em si ser de extrema periculosidade, os soldados ainda tinham que lidar com o terror psicológico imposto pelo comando.

Não é de se surpreender que a rotatividade no grupo era alta e poucos que resistiram ao treinamento rigoroso conseguiram permanecer por muito tempo. O próprio Capitão Nascimento dava sinais de não suportar mais a rotina e durante o primeiro filme está à procura de um substituto.

Por mais que o trabalho exija sacrifícios, é de se questionar quando interfere acentuadamente na qualidade de vida. Será que, assim sendo, estamos o conduzindo da melhor forma?

No segundo filme, os traços autoritários continuam, ainda que amenizados, mas o que se destaca na sua função de líder é o de assumir a responsabilidade.

A fracassada invasão da cadeia de Bangu I foi liderada pelo Sargento André Mathias. Este decidiu assumir sozinho a culpa, mas Nascimento não aceitou a decisão, pois o comando era dele, logo a responsabilidade também era.

Dessa forma, ele não deixou Mathias sofrer as sanções administrativas sozinho e não se escondeu na hora de compartilhar a culpa usando de suas prerrogativas hierárquicas. Atitudes como essa conquistam o respeito dos subordinados, pois se sentem amparados e inseridos em uma coletividade.

Annalise Keating

A série How To Get Away With Murder colocou novamente em evidência a advocacia criminal no mundo das séries ao apresentar o trabalho de Annalise Keating. Advogada criminal, ela monta anualmente uma equipe de estagiários para ajudá-las em seus casos.

Seu estilo implacável magnetizou a audiência e alçou a carreira da atriz Viola Davis.

Annalise Keating é uma boa liderança?

Ela tem diversas qualidades de uma boa liderança. Tem talento nato para extrair o melhor de cada um deus comandados e defende sua equipe com todas as forças quando posta em xeque. Porém, apesar dessas qualidades apreciáveis, não são suficientes para ser considerada uma boa liderança.

Não, Annalise Keating não é uma boa líder. A exemplo de Nick Fury, ela também não compartilha informações com a equipe, mas esse não é o aspecto mais grave.

Ela frequentemente leva questões do trabalho para o lado pessoal e permite que problemas pessoais interfiram no trabalho.

Autor: Eduardo Almeida

Especialista em reestruturação empresarial, reconhecido como "doutor das empresas", com foco em salvar instituições de saúde em crise no Nordeste através de diagnósticos precisos e intervenções estratégicas eficazes.

Data:

10 out, 2024