O assunto do momento é um só: eleição. Não tem como fugir. As pessoas podem evitar falar do assunto, o noticiário, as redes sociais, tentar se distrair, mas é inevitável que em algum momento o tema se intrometa no seu dia. Seja direta, seja indiretamente. A tensão está no ar, pois o país está dividido e a incerteza apenas aumenta.
Enquanto o pleito não for decidido, é difícil prever os próximos atos ou contar com alguma novidade.
A classe política está paralisada. Câmara e Senado estão as moscas, todo mundo empenhado em se eleger. Praticamente todas as pautas aprovadas e propostas pelo governo estão relacionadas a eleição. Ou seja, muito para curto prazo e pouco apontando para o futuro.
Esse cenário é complicado para a economia, pois se a política está em compasso de espera, congelada em seus interesses imediatos, é arriscado fazer qualquer movimento.
A política indica o rumo dos ventos por determinar prioridades que podem beneficiar ou não determinadas estratégias. Agir no escuro sem um sinal claro sobre o pensamento político e as ações dos que se encarregarão de ocupar o poder executivo nos próximos anos é perigoso. Isso leva a cautela a condição de ordem do dia.
No entanto, esse comedimento gerado pela incerteza política traz impactos nocivos para a economia do país como se verá adiante.
Como a incerteza política prejudica a economia?
A indefinição sobre os rumos do país apresenta os riscos já mencionados. Riscos que estimulam o pé no freio. Empresas adiam investimentos, comerciantes protelam planos de expansão, investidores internacionais decidem postergar ações concretas e os trabalhadores em geral evitam contrair dívidas.
O medo do desconhecido é um temor comum a todos. O efeito de esperar a roda da história se mover para vislumbrar uma direção mais clara de futuro é esfriar a economia. A insegurança quanto ao futuro inibe a injeção de dinheiro no mercado.
O setor imobiliário, por exemplo, é um dos primeiros a sentir a gelidez quanto a investimentos. Como o seu produto é um bem-durável de enorme importância pecuniária e social, que geralmente vincula a um compromisso de prazo extensivo, costuma ser preterido diante de um quadro de instabilidade ou incerteza política.
O mesmo ocorre na indústria automobilística ou nos setores de serviços considerados não essenciais. O efeito dessa timidez nos investimentos é o do dominó: o corretor aperta os cintos diante do cenário de vacas magras; por isso, adia a troca do carro obrigando o vendedor da concessionária adiar a viagem a Fernando de Noronha e a bola de neve acaba chegando até a base da pirâmide. Quando a dona de casa passa a excluir itens da lista de compra.
A consequência natural do segurar do dinheiro é a queda generalizada dos índices econômicos, retração de vendas no comércio, contratação de serviços, aumento da inflação e a imposição de cortes de gastos para manter o negócio em pé.
Os empregados de carteira assinada são os primeiros a sentir os impactos dos cortes e a engrossar a fila do seguro desemprego e outros programas assistenciais.
Por isso, a indefinição política prolongada é ruinosa para a economia e para o país. Quando se há uma projeção de futuro clara, torna possível realizar um planejamento mais seguro, apostar com menos chances de erros em investimentos, identificar quais caminhos percorrer para obter vantagens ou desviar de armadilhas, etc.
Por que a política econômica é tão importante para a estratégia de investimento de longo prazo?
A confirmação sobre qual lado ditará a política econômica do país a partir de 2023 é de grande importância porque apresentará uma tendência dos próximos passos da máquina do Estado.
Poderá responder, ou sugerir, questões como:
Qual será a prioridade dos investimentos do próximo governo? Tal informação pode favorecer empresas de determinado segmento, aumentar suas ações na bolsa, etc.
Privatização de empresas estará na pauta do dia? Se sim, quais?
O governo concederá benefício, crédito especial para determinado setor como decisão estratégica?
O próximo governo pretenderá fechar acordos bilaterais com países vizinhos? Favorecerá a importação ou exportação de determinados produtos? Reduzirá os juros para facilitar o crédito no mercado?
Percebe? Essas são decisões que influenciam o movimento da maré e sinalizam potencialmente para qual lado se avizinha águas favoráveis ou ondas pesadas. A ação do governo centraliza o movimento da economia e influencia toda a cadeia de produção quanto as suas decisões de futuro.
Quais são os cenários econômicos prováveis depois de 30 de outubro?
Apesar de essa eleição ser marcada por muitas acusações e poucas propostas, é possível extrair das candidaturas tendências referentes a política econômica em eventual governo.
Os dois candidatos não defendem ruptura do modelo econômico vigente. Por isso é certo esperar que, independente do resultado, não haverá mudança profunda na estrutura econômica, o que certamente seria motivo de muita turbulência.
No entanto, os candidatos apresentam distinções notórias acerca de suas prioridades.
Provável cenário econômico com a vitória da situação
A situação claramente defende cartilha profundamente liberal. Já sinalizou pretender enxugar a máquina pública priorizando programa de privatização de empresas estatais e pautar a reforma administrativa. Reforma com objetivo de reduzir o que considera privilégio de servidores públicos.
Esse pensamento econômico demonstra o entendimento que cabe a iniciativa privada o papel de motor econômico do país e que o Estado deve atuar como entidade a auxiliar o mercado.
Provável cenário econômico com a vitória da oposição
A candidatura de oposição também pretende adotar uma política liberal, como já fizera no passado, entretanto, sua visão do papel do Estado difere em relação ao adversário.
A julgar pelo período anterior em que estivera no poder, é certo que prosseguirá com a linha econômica de parceria entre público e privado. Contudo, o Estado deverá desempenhar o papel de protagonista no desenvolvimento econômico e não ser apenas um órgão auxiliar.
A candidatura já sinalizou que não pretende priorizar privatizações e defende a retomada da política de crédito especial de bancos públicos para impulsionar a economia. Por esta lógica, o Estado forneceria condições especiais para estimular a expansão de setores estratégicos.
Essa linha de pensamento, portanto, compreende que a autorregularão do mercado é uma crença desapegada da realidade e que é necessário um Estado forte para regular as relações comerciais e defender os interesses dos mais fragilizados.
Considerações finais
É preciso ficar claro, no entanto, que apesar de serem os cenários prováveis, não há uma garantia de que o futuro se encaminhará de tais maneiras, pois a política é um terreno inóspito e complexo.
Os dois candidatos já descumpriram promessas no passado em razão do contexto político ou pela conveniência. O melhor a se fazer para evitar surpresas desagradáveis é aguardar as próximas cenas. Aguardar e se manter atento nas movimentações políticas para uma leitura mais segura sobre o futuro do país.