Planejamento Estratégico

Ganhos e Perdas na Economia Após as Eleições: O Que Mudou?

O último dia 30 de outubro marcou o fim das eleições mais disputadas do país dedes a redemocratização. Luiz Inácio Lula da Silva sagrou-se vencedor da disputa com 50,9% dos votos válidos, contabilizando 60.345.999 votos. 

O resultado eleitoral representou alívio uns e inconformismo para outros. O país vive uma polarização ferrenha desde 2018 e cada lado da disputa desperta sentimentos intensos e antagônicos em parcela expressiva do eleitorado.

Não é de se admirar que o desfecho do pleito tenha promovido efeito imediato e contundente, não só no dia seguinte como também no decorrer da semana. 

Os mercados reagiram à eleição de Lula com surpreendente otimismo para quem considerava que o petista era a opção menos desejada. 

Os eleitores mais fervorosos e radicais do atual presidente, Jair Messias Bolsonaro, também reagiram ao resultado, mas em tom completamente oposto.

Se na bolsa a reação foi otimista, nos núcleos bolsonaristas o sentimento era de revolta. Os mais radicalizados não tardaram em sair às ruas e interditar rodovias. Alegaram fraude e pediram intervenção dos militares para reverter a manifestação das urnas por estarem supostamente fraudadas. 

O que se seguiu foram momentos de tensão, perdas e instabilidade.

O efeito Lula

Com a confirmação do terceiro mandato do petista, o dia depois da “eleição do fim do mundo” foi de queda do dólar e alta da bolsa. O dólar comercial recuou R$ 0,134 na segunda, 31, fechando em R$ 5,166, após abrir o dia a R$ 5,40. 

A queda da moeda norte-americana na ocasião representou o maior recuo desde o dia 21/10, quando encerrou com R$ 5,148.

O índice Ibovespa também fechou o dia pós-eleição em alto astral, pois encerrou com alta de 1,31%, somando 116.037 pontos. A entrada de capitais estrangeiros, concentrado principalmente por varejistas, linhas aéreas e bancos, após o resultado do pleito impulsionou a subida do Ibovespa. 

No entanto, o retorno do Partido dos Trabalhadores ao poder provocou queda nas ações de empresas públicas, como Banco do Brasil e Petrobras. 

Entendendo o efeito Lula

O aparente bom humor do mercado de ações pode ter causado certa surpresa para quem interpretava que Bolsonaro era a opção mais desejada pelo setor financeiro. Afinal, seu governo foi marcado pelo ultraliberalismo, ainda que algumas promessas de campanha não tenha sido compridas, como respeitar o teto de gastos e promover privatização maciça de estatais.

Contudo, o discurso e as práticas da gestão Bolsonaro, capitaneada pela equipe econômica de Paulo Guedes, sempre esteve alinhado às aspirações do setor privado e se manteve alinhado durante a campanha eleitoral deste ano. 

Sendo assim, era de se supor que a vitória da oposição ao seu governo promoveria um baque depressivo profundo nos mercados e queda expressiva do real. Mas ocorreu o oposto. 

Importante destacar, no entanto, que apesar do mercado ter reagido bem à vitória de Lula, o desempenho da bolsa não foi extraordinário, porém positivo. 

Essa reação positiva imediata que pegou alguns de surpresa se deve pelo fato de Lula representar a estabilidade. Apesar de Bolsonaro defender pautas mais liberais, seu governo foi marcado por muitas turbulências. 

Seus atritos com as instituições, a condução errática da pandemia e seus discursos incendiários para com os seus seguidores fieis colocaram o país em constante estado de tensão e incerteza. 

Incerteza costuma causar urticária nos investidores. Diante desse quadro, preferem segurar seus investimentos ou apostar em outras opções. 

Poucos são aqueles dispostos a arriscar seus investimentos em um país que flerta a todo instante com mudanças políticas e institucionais profundas. Mudanças cuja organização e critério são difíceis de precisar ou antever. 

Moderado e previsível

Outro ponto a se ponderar é que Lula, apesar de defender pautas que desagrada parte do mercado financeiro, como cortar o teto de gastos e privilegiar estatais, jamais flertou com mudanças radicais na condução da economia. 

Seus dois primeiros governos prosseguiram com a linha neoliberal adotada pela gestão Fernando Henrique Cardoso, diferindo apenas na postura mais protecionista aos órgãos públicos e na distribuição de renda. 

Apesar das acusações de seus críticos mais ferozes, Lula nunca esteve próximo de implantar uma gestão socialista, ou comunista, nem Brizolista. Sua gestão foi marcada pelo pensamento desenvolvimentista e conciliatório. A escolha de Geraldo Alckmin para ocupar a vice-presidência é um aceno claro ao mercado de sua disposição de promover um governo moderado e previsível. 

Entre a confusão e a estabilidade, melhor a estabilidade, ainda que não totalmente alinhada aos desejos do mercado.

O efeito das paralisações

O resultado eleitoral naturalmente desagradou os eleitores de Jair Bolsonaro (PL). A maioria aceitou a decisão das urnas, mesmo a contragosto, porém uma minoria radicalizada decidiu bloquear rodovias em praticamente todos os estados da federação. 

No dia após as eleições, foram registrados 338 pontos de protestos que se avolumaram nos dias subsequentes. As paralisações continuaram pelos 5 dias seguintes e provocaram diversos transtornos a população e a setores importantes da economia.

Os bloqueios das estradas interferiram nos setores de combustíveis, hospitais, alimentos, indústrias, entre outros. 

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismos (CNC) projetou perdas diárias superiores a R$ 1,8 bilhão no comércio. Número acima da registrada na histórica paralisação dos caminhoneiros de 2018.

Já a CNI (Confederação Nacional da Indústria), informou em 4/11 risco real de falta de combustível nos postos de gasolina se as vias não fossem logo desbloqueadas. A Fecombustíveis anunciou falta pontual de combustíveis em alguns estados.

A Abramed informou dificuldade de alguns laboratórios em transportar e abastecer insumos, além de carregar amostras de pacientes.

Já a Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB) também comunicou preocupação com falta de medicamentos e suprimentos para as instituições.

Em São Paulo, Mato Grosso, Mato grosso do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro, 70% dos supermercados enfrentaram problemas de abastecimento, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS).

O provável futuro que se avizinha

Apesar dos nervos a flor da pele, parece correta a análise de que a tendência nos próximos meses seja de apaziguamento de ânimos e estabilidade. 

Os bloqueios nas rodovias cessaram em 9/11, ainda que manifestantes permaneçam em frente a quartéis, os protestos não ganharam corpo e a transição para o novo governo segue a passos largos e sem turbulência. 

A maioria da população demonstra cansaço com a rotina de conflitos, grandes eventos se aproximam trazendo consigo datas de importância comercial inestimável e período de férias. 

Ainda que haja solavancos, o que parece se avizinhar com os gestos e movimentações de Lula é um governo que tentará pacificar o país, apostará na estabilidade, no tom moderado e crescimento econômico. 

Se terá êxito, apenas o tempo dirá, contudo, a disposição de tal intento se mostrou suficiente para a projeção de um futuro, se não esfuziante, otimista.

Autor: Eduardo Almeida

Especialista em reestruturação empresarial, reconhecido como "doutor das empresas", com foco em salvar instituições de saúde em crise no Nordeste através de diagnósticos precisos e intervenções estratégicas eficazes.

Data:

29 nov, 2022