A situação se encontrava perigosa para a Gol (GOLL4). O tempo era chuvoso, a visibilidade, reduzida; o combustível, esgotando e o aeroporto, distante. A Gol, assim como as demais companhias aéreas de todo o mundo, teve que fazer grandes esforços e sacrifícios para superar o período dramático da pandemia. Mesmo contando com suporte do Estado e flexibilização das dívidas devido ao período excepcional, foi inevitável o contrair de sequelas atormentadoras para sobreviver.
O longo período de inatividade ou de operação muito reduzida obrigou a se recorrer ao mercado externo para captar recursos até a chegada de dias melhores.
Sem dúvida que com a reabertura das principais atividades iniciou-se notável processo de recuperação em decorrência da demanda reprimida. Demanda, porém, insuficiente para cobrir os danos acumulados ao longo de dois anos de paralisação.
No caso da Gol, a relação da alavancagem e do Ebitda estava em 9 vezes na ocasião em que se colocou em marcha a recuperação judicial.
Emissões no exterior: a origem da dívida
Para obter liquidez e seguir com as operações. A Gol emitiu títulos de captação no exterior a vencer em 2024, 25 e 26. A estratégia foi providencial para cobrir seus principais custos durante o pior da crise, mas armou bombas a explodir a médio prazo.
O contexto econômico brasileiro deixou a situação mais complexa e perigosa. Apesar do alívio e da euforia inicial pelo arrefecimento da pandemia, o Brasil atravessa amarga crise econômica por anos a fio. Inflação em alta, juros idem, desemprego nas alturas e informalidade batendo recordes.
O clima não é de confiança sem medo do futuro, mas de cautela devido a traumas passados e presente ambíguo.
Ou seja, não há tanta demanda disponível para assegurar caixa suficiente para honrar os compromissos a vencer. Também não há perspectiva clara de melhora significativa na economia e na confiança do consumidor sobre sua capacidade de honrar compromissos a longo prazo.
Foi esse o quadro que a Abra encontrou quando assumiu o controle da companhia.
Ablas: o bote salva-vidas
A Ablas foi a responsável por iniciar a reestruturação financeira da Gol ao constatar o alerta vermelho escancarado pelo Ebitda.
Trata-se de uma holding que controla a operação internacional da Avianca Colômbia e se tornou oficialmente dona da Gol em abril deste ano.
A confirmação se deu após a validação dos órgãos antitruste. Ela se tornou um dos maiores grupos aéreos do mundo.
Combinando a frota das duas companhias, a holding é responsável por mais de 280 aeronaves operando no continente americano.
O salvadorenho Roberto Kriete (ex-Avianca e TACA) assumiu a chefia do conselho. Constantino de Oliveira Junior, filho do fundador da Gol, Nenê Constantino, comanda o executivo.
Para garantir a viabilidade do negócio e demonstrar força logo na chegada, a Abra decidiu concluir, em simultâneo a assinatura dos documentos finais, uma das maiores reestruturações privadas de dívidas da América Latina.
O plano de reestruturação da Gol promovido pela Abra
Com a Abra tornando-se a nova controladora da brasileira Gol, pôs-se em marcha um plano de reestruturação para cobrir as dívidas contraídas principalmente durante a crise sanitária. Ao todo, o aporte foi de U$ 1,4 bilhão, quase R$ 7,5 bilhões.
Além da injeção direta de recursos, parte substancial do aporte ocorreu com a troca de papéis de todos os vencimentos da Gol que circulavam no mercado. No lugar foram oferecidos papéis da companhia com vencimento em 2028.
Os detentores de ações preferenciais da Gol tiveram o direito de preferência na subscrição de bonds conversíveis. Foi assegurado ainda aos acionistas com ações preferenciais prioridade quanto à emissão dos bônus de subscrição. Emissão prevista para antes da data limite de 2028.
O que aumentou a segurança dos acionistas sobre essa movimentação da Abra foi a inclusão das milhas Smiles, programa de fidelidade da Gol, como garantia pela nova dívida. O programa é avaliado em US$ 3,7 bilhões.
Repercussão no mercado
A notícia da recuperação judicial da Gol e das cartas postas na mesa por sua nova controladora teve ótima recepção no mercado. As ações da aérea voaram alto: aumento de 30%.
Uma verdadeira reviravolta do histórico recente da Gol na B3. Nos últimos 12 meses seus papéis tiveram desvalorização de mais de 50%.
Sem dúvida a chegada da Abra marcou um novo capítulo na história da empresa. Marcou o início de novos tempos e do fim de um período de angústia iniciado na pandemia e com data prevista para o clímax. Felizmente, antecipado da melhor maneira possível pela holding.
Reestruturação da dívida: processos e estratégias
A reestruturação de dívida tem objetivo claro: reduzir o valor total da dívida da empresa, diminuir ou suspender as taxas de juros cobradas e estender o prazo de pagamento.
Na reestruturação de dívida, uma estratégia usual é a troca de débito por capital. Nesse método, conhecido como swap dívida/patrimônio, os credores concordam em receber participação no negócio em troca de redução da pendência, seja parcial, seja total. Em se tratando de empresas de capital aberto, essa transação envolve a troca de títulos por ações.
Os bancos de investimento desempenham papel crucial na execução dos processos de troca de dívida por capital. Isto porque é necessário realizar uma avaliação minuciosa para determinar o valor real da empresa, da dívida e como a reestruturação dos débitos afetará o preço das ações.
Os credores aceitam fazer a troca de dívida por patrimônio se estiverem seguros dos benefícios dessa movimentação.
Os credores precisam ter uma perspectiva de retorno lucrativo da empresa para aceitar uma participação nela. O papel dos bancos com o aceite da troca é o de promover o equilíbrio entre as necessidades de cada grupo e a sobrevivência da empresa. Em simultâneo, precisa zelar também pelos rendimentos que os credores buscam.
O case da Gol Linhas Aéreas certamente foi um ótimo exemplo de reestruturação bem-sucedida envolvendo a troca de títulos por ações.
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