Sinal dos tempos. A Tupperware estremece e ameaça desmoronar. Algo impensável de se conceber nos 1960 e 1970 e no Brasil dos anos 1980, quando a onda da “festa da Tupperware” chegou no país.
A empresa fundada pelo químico estadunidense Earl Tupper foi uma das primeiras marcas a popularizar seus produtos em escala global, se tornando um símbolo do poderio empreendedor e industrial do centro do capitalismo.
A Tupperware inovou ao trazer para o mercado potes de polietileno vedado e a prova d’água, ideais para armazenar alimentos e toda sorte de produtos.
O sucesso foi tão estrondoso e certeiro que a marca passou a ser sinônimo de potes de plástico. Quando se pensa em Tupperware a associação com o produto é instantânea. Um dos sinais claros e incontestes quando a empresa se torna dominante no seu segmento.
Fama que se mantém até ao presente, no entanto, sua proeminência no mercado já não é mais absoluta e a Tupperware pode ir à falência.
O que explica essa crise impensável até o começo do milênio?
O novo chegou: ele agora é verde e diversificado
Um conjunto de fatores explica o período de instabilidade e de ameaça de extinção da Tupperware como a conhecemos. Um deles é a incapacidade da marca, até o momento, de apresentar soluções mais sustentáveis na sua linha de produtos.
Produtos de plástico podem levar mais de 400 anos para se decompor e provocar terríveis danos ambientais.
Há tempos a comunidade científica alerta sobre os perigos da degradação dos recursos naturais do planeta. A intensificação das consequências dos efeitos climáticos pelo mundo tem gerado apreensão.
Lideranças políticas e econômicas estão dedicando mais atenção ao problema nas últimas décadas e a conscientização da população tem aumentado, ainda que se perceba resistência em algumas camadas da sociedade.
Com certeza a questão ambiental é um tema que já chegou aos ouvidos ao menos uma vez de todo cidadão com acesso aos meios de comunicação no Brasil ou no mundo. É um tema também presente nas escolas e nas artes.
As gerações mais jovens se demonstram mais sensíveis com as questões ambientais em comparação a dos seus pais. Uma pesquisa feita pela First Insight identificou que a geração Z supera as antecessoras em usar a sustentabilidade como fator de escolha para consumir um produto.
Segundo a pesquisa, 73% dos entrevistados estão dispostos a pagar 10% a mais do preço de mercado de um produto se este for sustentável.
O efeito dessa mudança do perfil do consumidor no negócio da Tupperware foi perda de mercado, pois os mais jovens estão optando por soluções sustentáveis.
Como a empresa não soube se reinventar para atingir esse público, perdeu espaço e abriu brecha para a concorrência.
Outro fator que explica sua derrocada. Neil Sanders, especialista em varejo da GlobalData, avalia que a Tupperware deixou de ser considerada estilosa e inventiva pelo público jovem que acabou migrando para outras marcas.
No redemoinho da crise macroeconômica
O contexto da economia estadunidense colabora para o momento de crise vivido pela Tupperware e outras empresas.
Há um ano o Federal Reserve iniciou ciclo de aperto monetário que entrega hoje taxa-base de 5,5%.
O impacto econômico da medida piorou as condições de crédito para famílias e empresas. Há forte possibilidade de recessão da economia estadunidense nos próximos meses, tanto que a agência S&P já elaborou uma estimativa de quantas empresas entrariam em processo de falência com este cenário se concretizando: mais de 660 até o fim de 2023.
Portanto, mudanças comportamentais advindas da troca de gerações, dificuldade ou miopia para se reinventar e se adaptar aos novos tempos, aliadas a um período econômico delicado e tempestuoso a vista, foi a receita para abalar a solidez de uma gigante como a Tupperware.
Mas qual é o tamanho do buraco que a empresa se encontra? É possível reverter essa crise? Quais seriam as soluções em vista?
Radiografando a crise da Tupperware
Quem dá a dimensão da crise é a própria Tupperware. A companhia anunciou no último dia 10 que pode fechar as portas se não obter acesso a novas linhas de crédito para sanar seus problemas financeiros.
A empresa vem de um ano em que precisou reduzir 18% de seu quadro de vendedores diretos. Ela planeja uma nova rodada de corte de gastos que incluiria mais demissões e venda de propriedades.
Para completar o circuito de más notícias, houve especulações que as ações da Tupperware corriam o sério risco de serem retiradas da bolsa, pois a empresa não teria atendido um dos pré-requisitos para entrar na listagem, a apresentação de um relatório anual.
O anúncio associado a esses detalhes derreteu as ações da empresa que caíram 50% na segunda dia 10. No dia seguinte, houve alta de 4%, porém especialistas põem em dúvida se o dano a confiança dos investidores é reparável.
Para agravar a situação, nem mesmo a venda dos ativos pode ser suficiente para recuperar a saúde financeira da empresa.
É um caso perdido?
É cedo para decretar o fim da Tupperware, mas claro que pelo cenário apresentado tal hipótese não pode ser descartada, pois reverter a crise não será simples.
Será fundamental para a companhia obter novas linhas de crédito para conseguir respirar e ganhar mais tempo. E isso pode não depender apenas da habilidade e influência dos negociadores, mas da melhora da economia, algo totalmente fora de seu controle.
O mesmo se aplica quanto a renegociação de dívidas. Para este último caso, será necessário conquistar a confiança dos credores de sua capacidade de recuperação e isso passa por conseguir reconquistar o espaço que perdeu no mercado. Ou seja, apresentar uma solução inovadora capaz de atrair a atenção do público e fidelizá-lo.
Outra solução no horizonte resolve o problema em parte, pois exigirá sacrifício. Se os piores cenários se confirmarem e não despontar nenhuma inovação nos próximos meses, a saída poderá ser a venda da Tupperware para uma grande rede do varejo, empresas do porte da Target e Walmart.
A aquisição não seria difícil mesmo com a empresa enfrentando tamanha crise e isso se deveria a sua enorme popularidade.
Qual é a sua aposta sobre a Tupperware?