Enfim, Brasil e China. O encontro entre o presidente Lula e o governo de Xi Jinping era muito aguardado por uma série de motivos. O adiamento devido a complicações de saúde de Luiz Inácio apenas aumentou a expectativa.
A viagem era tida como de fundamental importância para o governo recém-empossado, pois a China é o principal parceiro comercial do país e com interesse em aumentar investimentos.
A potência asiática quer convencer o Brasil, por exemplo, a aderir ao projeto Belth and Road (Cinturão e Rota), lançado em 2013 por Xi Jinping para ser a “Nova Rota da Seda”.
O Brasil é visto como peça importante do tabuleiro da geopolítica atual, por ser a nação mais importante da América do Sul.
Não é segredo para ninguém que os chineses estão tentando ampliar sua zona de influência no mundo e reduzir a dos EUA, principal rival pela hegemonia econômica.
É o que explica, por exemplo, o movimento dos chineses de propor parcerias com países como a Rússia, e o próprio Brasil, para estabelecer transações comerciais sem passar pelo dólar. Pequim pretende com isso aumentar a circulação do yuan e reduzir a dependência da moeda estadunidense.
É nesse contexto que Lula viajou na última quarta (12) para Pequim. Sua missão foi a de reatar relações políticas e diplomáticas com a China, seriamente abalada no último governo, e reposicionar o Brasil como destino de investimentos chineses.
Nem lá, nem cá. Aqui
Para a maioria dos analistas econômicos, o Brasil pode obter diversos benefícios econômicos se aproveitar bem a viagem. Se Lula e sua equipe econômica obterem acordos comerciais estratégicos e desempenhar papel parecido ao do governo Vargas durante a II Guerra.
Claramente vivemos o nascedouro de uma nova guerra fria, com a China se levantando como desafiante aos EUA. O Brasil se assumir uma postura adequada de equilíbrio pode obter benesses dos dois lados e tirar vantagem da disputa.
E “assumir uma postura adequada” é evitar ir demais com sede ao pote. Os chineses têm muito a oferecer, mas o Brasil historicamente é zona de influência dos EUA, até por ser geograficamente mais próximo.
Se o Brasil aderir a “Nova Rota da Seda”, por exemplo, pode despertar reação estadunidense e gerar uma crise.
No entanto, em um mundo cada vez mais globalizado, é prudente não se tornar tão dependente de uma nação e nem desagradar cliente importante como a China, pois além de ser nosso principal parceiro comercial, desponta como nova superpotência.
Para materializar essa carta de intenções entre Brasil e China, foram assinados uma série de acordos comerciais.
Listo os principais a seguir e dou meu parecer sobre os possíveis impactos que esses acordos tendem a causar na nossa economia.
Os acordos assinados entre Brasil e China
Foram anunciados ao menos 20 acordos entre Brasil e China durante o encontro de Lula e Xi Jinping, sendo a maioria concentrada na área comercial. Os que destaco como os mais relevantes:
Venda das aeronaves da Embraer
Acordo para concluir a venda de 20 aeronaves e a construção de uma área de montagem na China. Os jatos comerciais vendidos são do modelo E195-E2.
A Embraer não informou até o momento o valor da transação.
Transação entre Brasil e China sem a intermediação do dólar
O Brasil será o primeiro da América Latina a ter acesso ao sistema financeiro chinês que opera de forma semelhante ao ocidental Swift.
Este acordo permitirá que as operações comerciais entre Brasil e China dispensem a liquidação via câmbio com o uso do dólar e ocorram apenas usando a moeda chinesa.
Já adiantei os interesses sobre essa iniciativa do governo chinês, mas aqui cabe destacar a vantagem para o comércio brasileiro.
Esse modelo de transação reduzirá a taxa de câmbio entre as transações, pois atualmente um importador brasileiro necessita comprar dólares para pagar exportadores chineses, que precisam converter esses dólares em yuan.
Créditos de carbono Brasil e China
Outro acordo assinado foi o referente ao comércio bilateral de créditos de carbono.
O Brasil por contar com a floresta amazônica se coloca no cenário internacional como um dos países de maior potencial de produzir créditos de carbono.
Empresas que investem em projetos sustentáveis recebem créditos por esta iniciativa e podem vender para empresas, organizações e indivíduos com o compromisso de compensar a emissão de gases poluentes decorrentes de suas atividades.
A China é um dos países mais poluidores do mundo devido à geração de sua energia depender do uso de carvão e de derivados de petróleo. A China investe pesado em projetos sustentáveis para compensar sua emissão de poluentes e para evitar sanções internacionais.
É um acordo, portanto, extremamente vantajoso para o Brasil que deverás ser irrigado nos próximos anos por dinheiro chinês.
Parceria aeroespacial
Acordo a ser concretizado com o lançamento da CBERS-6, um satélite com condições de monitorar florestas mesmo som forte incidência de nuvens. Recurso de valor inestimável para monitorar áreas desmatadas e a ação do garimpo ilegal.
O acordo reativa a parceria aeroespacial entre os dois países iniciada em 1998 que deu a origem a 6 satélites.
Os impactos econômicos dos acordos comerciais entre Brasil e China
A viagem de Lula sem dúvida renderá impactos positivos a economia brasileira a médio e longo prazo. A China é um parceiro estratégico de vital importância para a nossa economia e os acordos são vantajosos por garantir mais investimentos chineses nos próximos anos.
Outros acordos assinados via ApexBrasil consolidam a importância da China para a internacionalização de nossas empresas e consequentemente para a diversificação de receitas.
Mas isso era o mínimo que se esperava.
Como expus acima, obter acordos com a China não seria tão complicado, uma vez que seus dirigentes têm bons motivos para negociar com o Brasil. Creio que faltou ao governo brasileiro um pouco mais de ousadia.
As parcerias confirmadas se restringiram a acordos comerciais. Receberemos uma boa injeção de investimento estrangeiro, mas continuaremos carentes de tecnologia.
Faltou uma visão mais estratégica referente a nossa industrialização. Nesse sentido, nossos vizinhos sul-americanos foram mais ousados.
A Bolívia fechou parceria em janeiro com o consórcio chinês CBC para a exploração de depósitos de lítio. Com o Depósito de Lítio Bolivianos, o consórcio chinês explorará, refinará, processará e comercializará os recursos de lítio.
Além da injeção de bilhões de reais para instalação de estradas (estima-se apenas na primeira fase R$ 5,3 bilhões), base e infraestrutura de energia, os chineses acordaram em transferir tecnologia para a estatal boliviana. O governo de Luis Arce prever produzir baterias de lítio até 2025.
A Argentina aderiu em 2022 a Nova Rota da Seda. Os chineses disponibilizarão mais de US$ 23 milhões de dólares para financiar obras e investimentos no setor de transportes, construção, energia, água e esgoto.
Nossos vizinhos ainda firmaram um plano para a construção da quarta central nuclear do país, Atucha 3.
Brasil pode mais
Do ponto de vista estratégico, de desenvolvimento da produção nacional, esses acordos me soam melhores. Entendo se tratar de um campo minado, que é preciso avançar com destreza para não se queimar, mas o avanço poderia ser mais ousado.
Afinal, se a Bolívia e Argentina foram mais ambiciosas em suas negociações, o Brasil, pelo tamanho e importância que tem, poderia sonhar com voos mais altos. O saldo da viagem, portanto, classifico como “regular”.
Sem dúvida conquistou parcerias importantes que ajudarão a aquecer nossa economia no futuro. Em comparação a última viagem do governo brasileiro aos EUA, por exemplo (na ocasião obteve apenas US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia), foi melhor. Mas aquém de nosso potencial como nação.
E você? Qual a sua opinião sobre os acordos entre Brasil e China? Deixe nos comentários.