Planejamento Estratégico

Como a Inteligência Artificial Está Revolucionando o Mercado da Saúde?

O título do artigo acerta quanto a expectativa para o futuro e, creio, também em despertar a atenção dos interessados pelo tema. Mas por questão de síntese não é tão preciso. A revolução promovida pela Inteligência Artificial (IA) na saúde não é uma hipótese futura, mas uma realidade patente. 

A verdadeira questão a se colocar é: o que esperar do futuro sobre essa revolução em curso? Quais avanços promete entregar e como impactará positivamente as pessoas?

Ainda: como o avanço do protagonismo na da IA em promover soluções na área da saúde será tratada pelo judiciário? Por exemplo: uma vacina desenvolvida por IA poderá ser patenteada ou não?

IA é uma realidade

Primeiro, acho importante antes de vislumbramos o futuro destacar os avanços já conquistados no presente. O investimento na aplicação de IA na saúde no futuro será inevitável devido aos resultados excepcionais que já proporciona hoje.

IA trata-se do uso de sistemas informatizados e símbolos computacionais para prever e reproduzir o comportamento humano. Quando aplicado em máquinas, sua função é realizar tarefas automatizadas, mas recorrendo a processos racionais.

Isso é possível graças ao uso de algoritmos que estruturam a raiz dos sistemas informatizados. Eles são encarregados de absorver e classificar massa infindável de dados. Em um processo de erros e acertos, aprendem padrões e desenvolvem uma inteligência artificial.

Alguns exemplos práticos do uso da IA na medicina são os leitores de imagens. São softwares treinados a reconhecer padrões em exames de radiografia, tomografia e mamografia. 

Os algoritmos conseguem compartilhar até milhões de imagens em segundos para realizar comparações e chegar a um diagnóstico preciso.

O algoritmo Watson, desenvolvido pela IBM, é outro exemplo de como a IA é utilizada para auxiliar no diagnóstico de doenças. O programa recorre a deep learning para promover um compilado da literatura científica disponível para sugerir as melhores opções de tratamento.

Outro grande exemplo da aplicação de IA na saúde ocorreu durante a pandemia. Foram desenvolvidos algoritmos para projetar a quantidade de pacientes em estado crítico na região do hospital. Um esforço para tentar racionalizar o caos das UTIs lotadas. A projeção auxiliou os gestores a se planejar melhor para enfrentar a tormenta do dia. 

Esses são apenas alguns exemplos. 

Encerro esse trecho trazendo um dado divulgado pela Accenture: estima-se que o mercado mundial voltado a assistência médica assistidos por IA ultrapasse 7 bilhões de dólares nos próximos anos.

O que esperar do futuro?

Para os médicos, um recado: vocês continuarão empregados. A proposta da IA não é substituir a avaliação humana sobre o enfermo, mas aprimorar o seu diagnóstico fornecendo dados precisos e confiáveis. 

No entanto, isso não significa que deva se acomodar. Os médicos necessitarão se especializar no uso de ferramentas tecnológicas, especialmente as com recursos digitais.

A tendência nos próximos anos é aprimorar os recursos existentes e ampliar a capacidade assistencialista da IA para diagnóstico e tratamento.

Atualmente o grosso da IA está concentrado na fase de diagnóstico. Entretanto,  a expectativa para os próximos anos é o aumento de sua participação para decisões clínicas referentes a fase de tratamento.

É o que aponta um estudo do EIT Health e da McKinsey & Company. A pesquisa revelou que 175 técnicos, mais 62 gestores do setor, esperam que a aplicação digital tenha papel mais relevante nas decisões clínicas. A expectativa é que esse avanço seja uma realidade em 10 anos.

Outro aspecto que promete se intensificar no futuro é a aplicação da IA em processos administrativos. A tendência é que a tecnologia seja usada para automatizar procedimentos burocráticos e, assim, permitir ao médico dedicar mais tempo ao paciente.

Outra tendência verificável é a união de startups e profissionais da saúde.

Atualmente já se se verificam iniciativas interessantes de projetos de startups com recurso de IA.  

iLof criou uma base de dados em Cloud de impressões digitais óticas. Ela é alimentada por fotónica e software. O programa fornece um rastreio não invasivo, triagem e estratificação para descoberta de medicamentos. 

Com o desenvolvimento tecnológico e a acessibilidade de mais recursos, é razoável projetar um futuro com mais iniciativas empreendedoras como essa. Iniciativas que somem na prestação de suporte médico a população.

Produção de remédios e vacinas

O avanço da IA será certamente aplicada para auxiliar em descobertas científicas. A tecnologia já se encontra em uso na indústria farmacêutica, integrada a Internet das Coisas (IoT), dispositivos e maquinários inteligentes.

A IA beneficia o setor ao automatizar o fluxo de trabalho, agilizar a análise de dados e acompanhar as mudanças regulatórias. Entre outras vantagens.

Benefícios que levam a crer que seu uso se manterá e será ampliado no futuro.  É esperado a chegada do momento que uma IA conseguirá desenvolver remédios e vacinas.

Ocasião que certamente levará ao debate sobre patentes. 

Uma descoberta científica realizada por uma IA poderá ser patenteada para gerar lucros a uma corporação ou pessoa?

Essa possibilidade entra em conflito, por exemplo, com o padrão de patentes elaborado pela Organização Mundial do Comércio (OMC). O documento define que para algo ser patenteado é necessário apresentar os seguintes aspectos:

  • Ser uma invenção;
  • Ser novo;
  • Ser submetido a processo inventivo;
  • Receber aplicação industrial.

Ou seja, o texto deixa implícita a necessidade do envolvimento de um humano no processo. A legislação atual não contempla as máquinas como autoras de descobertas científicas. 

Como essa questão será lidada no futuro? 

Conflito e perspectiva de futuro

Há defensores da tese de que a patente deve ser outorgada nesses casos, pois seria um incentivo as empresas a continuar investir em novas descobertas.

Porém, outros lembram que as indústrias se guiam exclusivamente pelo lucro, ignorando pesquisas de doenças com baixo potencial rentável. Jogam luz ao fato ainda de que o Estado normalmente cumpre o papel de investir em soluções sem garantia de retorno financeiro. A pandemia é o exemplo mais recente e gritante.

Apesar do conflito, é possível antever como esse tema será lidado no futuro. Como não existem regras internacionais sobre produção de novas tecnologias a partir de IA, o caminho provável são soluções próprias. Ou seja, cada país interpretando a lei a sua maneira.

A inteligência artificial na saúde é uma realidade sem retorno e o futuro inexorável. É uma revolução em curso que tem somente a acrescentar em eficiência, qualidade e produtividade nos serviços de saúde. 

Resta acompanharmos e nos preparamos para usufruir de suas benesses.

Autor: Eduardo Almeida

Especialista em reestruturação empresarial, reconhecido como "doutor das empresas", com foco em salvar instituições de saúde em crise no Nordeste através de diagnósticos precisos e intervenções estratégicas eficazes.

Data:

21 out, 2022